Uma
das leis de Newton diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no
espaço. Não sou da área de exatas, mas quero utilizar deste princípio a fim de
desenvolver meu raciocínio ao longo desta reflexão.
Gostaria
apenas, sem pretensão alguma de contestar sir Isaac Newton, de acrescentar um
advérbio a este princípio e deixa-lo assim: “Dois corpos não podem ocupar o
mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo”. Assim como, peço licença aos físicos
para, a partir de agora, usar de metáforas a partir deste princípio.
Apliquemos, portanto, a metafísica ao princípio físico.
Imaginemos
que os sentimentos e as emoções fossem constituídos de matéria. Aliás, seria
muito mais fácil lidar com eles se assim o fosse! Seria tão fácil agarrar a
frustração, jogá-la na lixeira e colocar na rua para que os garis levassem
embora; seria muito conveniente se houvesse a possibilidade de pegar as
decepções e recicla-las e, assim, reaproveitar aquela matéria de uma outra
maneira; seria ótimo quebrar as mágoas e espatifar os ressentimentos no chão,
como se fossem pratos ou copos! Enfim, façamos o exercício de imaginar que
sentimentos e emoções sejam constituídos de matéria.
Fisicamente
falando, seria impossível que emoções contrárias ocupassem o mesmo lugar no
espaço, ou seja, onde o ódio estivesse, lá não estaria o amor; onde estivesse a
compreensão, lá não estaria a incompreensão; onde a tolerância estivesse, lá
não estaria a intolerância; onde estivesse a segurança, lá não estaria a
insegurança; onde estivesse o amor próprio, lá não estaria a baixa autoestima,
e assim por diante.
Contudo,
as emoções não são físicas e não são constituídas de matéria. É por isso que
carregamos, no mesmo lugar, as duas (amor e ódio, consideração e
desconsideração, valorização e desvalorização etc). E, por vezes, além de
estarem no mesmo lugar, também acontecem ao mesmo tempo! Exemplo: você está no
trabalho, na sala de reuniões e ao seu lado está seu amigo por quem você tem
absoluto apreço e, em sua frente, seu colega de trabalho pelo qual, diga-se de
passagem, você tem total desapreço. São emoções contrárias, sentidas ao mesmo
tempo e processadas no mesmo lugar (no seu eu).
É
por isso que, ao termos consciência destes aspectos, podemos começar a
racionalizar melhor e a direcionar melhor tais emoções. Por exemplo, seu amigo
de trabalho, por quem você tem apreço, não merece receber uma resposta
agressiva por causa do desapreço que você tem pelo outro que está ali também,
entende? É saber perceber o que diz respeito a cada qual e o que queremos que
se expanda mais dentro de nosso lugar, isto é, dentro de nosso eu. Não seria
mais vantajoso ceder um lugar bem maior para o apreço? Não seria muito melhor
concentrar-se nas coisas boas e nas gargalhadas que deu e dá com este amigo
pelo qual tem apreço do que derrubar o bico, cruzar os braços, ficar nervoso e,
assim, fazer com que as consequências do desapreço se expandam e ganhem espaço
dentro de você?
Portanto,
creio que podemos refletir sobre quais são os espaços que temos destinado para
os sentimentos e as emoções dentro de cada um de nós. Ao fazermos isso, podemos
chegar a conclusões de que existem verdadeiros latifúndios de ódio, de mágoas,
de ressentimentos, de frustrações e, por vezes, o bem-estar, o equilíbrio, a
temperança, a autoestima, a autoconfiança etc, estão vivendo em pequenos
terrenos. Está na hora de fazermos uma reforma agrária e fazer com que
sentimentos bons ocupem cada vez mais lugar no terreno de nosso eu. Pense
nisso! Forte abraço: André Massolini
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