Quando
amamos, no sentido verdadeiro da palavra, é natural que um sentimento paradoxal
surja em nós: ao mesmo tempo que nos sentimos maravilhados com tal sentimento,
o medo e a insegurança também aparecem. Como lidar com eles é que vai fazer
toda a diferença.
Alguns,
mais afoitos, poderiam bradar: “Se o medo e a insegurança surgiram, então é
porque não existe confiança e, consequentemente, não existe amor”. Temos que
parar de soltar frases prontas, carregadas de clichês e pautadas em romances
mexicanos (risos). Acredito que qualquer ser humano que esteja vivendo uma
relação amorosa intensa, está sujeito aos medos e inseguranças (principalmente
no mundo de hoje, em que acompanhamos um amar e desgostar instantâneos). Medo e
insegurança justamente de perder o sentimento que está fazendo tão bem!
Esta
insegurança e este medo faz com que as pessoas comecem a tomar algumas
atitudes. E é aqui que muitos problemas se instalam! Medo e insegurança podem
ser considerados “naturais” e normais em qualquer relação, desde que vistos
como um processo de conhecimento e amadurecimento. Porém, muitas pessoas
sentem-se extremamente ameaçadas e a insegurança, então, toma proporções
monstruosas. Com isso, a pessoa faz as piores besteiras possíveis.
É
justamente aqui que entra o sentimento que tão bem conhecemos e classificamos
como ciúmes. Ora, também o considero como natural em qualquer relacionamento.
Acredito que quem realmente gosta, sente ciúme. Porém, existe uma tênue linha
que divide o ciúme “natural” daquele que poderíamos chamar de “doentio”.
Aristóteles já dizia que a virtude estava no meio. Ou seja, é necessário o
equilíbrio. Um relacionamento sem ciúme algum pode denotar desinteresse (ainda
que, na realidade, não haja); em exagero, pode aprisionar a pessoa amada em
cobranças e fantasmas que só existem na cabeça da pessoa enciumada; com
equilíbrio pode, inclusive, apimentar a relação e mostrar que nos importamos
com a pessoa amada.
Esses
dias, li um trecho de uma carta de Gabriel Chalita, no qual ele fala justamente
sobre o título deste artigo e faz uma comparação fantástica: compara o amor com
o pássaro vivo e com o empalhado. Ou seja, muitas pessoas, quando amam, querem
laçar o outro, agindo como um caçador e tratando a pessoa como um pertence seu.
E, feita a caça, empalham para não ter riscos (quantas vezes, ouço histórias de
proibições absurdas: não deixar trabalhar, sair de casa ou até mesmo de dar bom
dia a um conhecido). “Um pássaro
empalhado fica sempre no mesmo lugar. Um pássaro vivo, entretanto, canta,
brinca, pula e voa. E seu voo tem volta se o espaço do aconchego foi oferecido”,
escreveu Chalita.
Não podemos fazer com que a pessoa que justamente mais
gostamos seja empalhada, seja anulada e perca seu jeito de ser e de agir! O
amor tem que garantir a liberdade! Aliás, se existe o amor, o pássaro vislumbra
o céu imenso que existe, mas ele OPTA por voar e sempre voltar ao lugar no qual
ele sente-se bem. Aquele, porém, que está engaiolado, enjaulado em cobranças e
restrições sempre achará que o melhor é voar e não voltar...
Saber
controlar nossos medos e nossas inseguranças (lembremos do equilíbrio)
garantirão um relacionamento saudável. Amar é cuidar, é tomar conta, sem
dúvida! Porém, cuidar e tomar conta não significa apoderar-se da pessoa amada,
transformando-a em propriedade, tendo em vista que ninguém é propriedade de
ninguém. Nascemos livres e ansiamos pela liberdade em todos os aspectos de
nossa vida: pessoal, profissional, familiar e, também, afetivo.
Forte abraço:
André Massolini
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