Diz a lenda que uma jovem decidiu-se por ser freira.
Estudou por muitos anos num convento e era admirada por sua inteligência e
capacidade em transmitir o que aprendia. Todos percebiam que era uma jovem que
gostava muito do que fazia e do caminho que escolhera.
A jovem foi adquirindo um
respeito e prestígio cada vez maiores na cidade onde estava. As mães adoravam
ver suas filhas conversando com a freira, sentiam-se orgulhosas quando viam
suas filhas na companhia de uma jovem tão bem falada na cidade. Faziam convites
insistentes à jovem freira para que fosse até suas casas tomar café, comer um
bolo etc, pois assim aproximavam ainda mais a freira de suas filhas.
E a freira sempre teve o
princípio do amor ao próximo em seu coração. Porém, não possuía este valor por ser freira, e sim
pelo fato de ser uma cristã verdadeira, independente do título que ocupasse
dentro da Igreja.
E justamente por ter
princípios e valores, a jovem freira sempre ajudou quem a ela se achegava.
Jovens que eram tímidas e fechadas conseguiam desabafar e conversar com ela,
que as aconselhava e as escutava com
atenção.
Porém, sua mãe ficou muito
doente e a freira teve que deixar o convento para cuidar da mãe. Foi com muito
pesar que tomou esta decisão, mas saiu e foi procurar emprego. Começou a ter
uma vida “normal”, apesar de todos a associarem à vida religiosa.
Como as pessoas não buscam
saber com a própria pessoa o que realmente aconteceu, algumas começaram a falar
da ex freira; surgiram comentários os mais diversos possíveis. Alguns diziam
que era uma moça que não prestava! E uma informação não verdadeira vai passando
de boca em boca e a cada nova pessoa que se passa ela vai se tornando tão real
que, no fim, uma deturpação vira fato consumado.
As mães não queriam mais
suas filhas em companhia da ex freira! “E se ela levar minha filha pro mau
caminho?” Perguntavam as senhoras de elevada moral e bons costumes, as senhoras
cristãs e de boa índole - semelhantes a
anjos tão elevados que esqueceram de olhar a situação do ser humano que se
encontra ao lado.
As mesmas senhoras que antes
lutavam pela aproximação da jovem freira com suas filhas, agora castigavam e
puniam severamente suas filhas caso elas conversassem com a ex freira.
O caso da freira, que acabei
de citar, é verdadeiro e aconteceu numa cidade não muito longe daqui.
Utilizei-me deste excelente exemplo apenas para ilustrar de forma prática o
título deste artigo: a sociedade dos
rótulos. O que mudou naquela jovem foi apenas o seu rótulo e não a sua
essência, o seu ser, a sua pessoa interior! Antes era rotulada de freira e isso
fazia com que as pessoas a imaginassem sob a áurea celestial; agora que era uma
“simples mortal” qualquer coisa cabia nela, qualquer rótulo ganhava validade e
todos se esqueciam de todos os valores e princípios que ela continuou
carregando dentro de si, pois os princípios não são adquiridos através de
títulos, mas através do dia-a-dia e da experiência que se faz com Deus. Se
alguém não fez a verdadeira experiência de Deus na vida, pode adquirir o grau
máximo dentro de sua denominação religiosa, mas se não possuía princípios e
valores continuará sem tê-los, porque os títulos são conferidos por meio de
papéis, ao passo que os princípios são talhados no coração e as pessoas podem
lê-los nas atitudes e obras que são feitas...
Aquelas mães, quando
proibiram as filhas de estarem juntas com a ex freira, provaram ser fúteis e
superficiais; provaram também, para a ex freira, que nunca a conheceram de
verdade como pessoa, o que é uma perda para suas filhas, mas um ganho para a ex
freira porque deixou de ter contato com mulheres banais e desequilibradas
emocionalmente.
Esqueçamos os rótulos e
olhemos a pessoa! Forte abraço: André Massolini
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