Na
Filosofia, temos um filósofo chamado René Descartes que criou o que chamamos de
dúvida metódica. A grosso modo, podemos dizer que o filósofo francês nos diz
para colocarmos tudo em dúvida (a dúvida levada ao extremo, por isso
hiperbólica) e aí, ele, que duvida, não pode duvidar de que ele, duvidando,
pensa. Ora, se ele pensa, então existe! E daí vem a máxima cartesiana: “Penso,
logo existo”.
Tragamos
a Filosofia para nossa vida prática: afinal, duvidar faz bem? Sinceramente,
acredito que a dúvida é motivadora, renovadora e impulsionadora! A dúvida nos
tira de posições cômodas, mostra que nossas certezas podem estar incertas,
coloca em xeque a posição pretensiosa e presunçosa na qual nos apoiamos tantas
e tantas vezes, como donos da verdade e da razão.
A
dúvida nos leva a uma reflexão de nós mesmos, a nos perguntarmos: “Será que agi
corretamente?”; “O que está acontecendo comigo?”; “Por que fui fazer aquilo?”; “Será
que, na verdade, quem errou fui eu e não o outro que julguei
precipitadamente?”; “Eu realmente sou uma pessoa que promove o bem, que leva a
alegria, a concórdia e o amor às outras pessoas?”.
Enfim, a dúvida, quando bem
empregada, tira-nos de posições rígidas, quebra nosso orgulho e faz com que
mergulhemos nos questionamentos tão necessários ao nosso amadurecimento e
crescimento.
Muitas
atrocidades foram cometidas, na História da humanidade, justamente porque as
pessoas não duvidaram, não questionaram, não se perguntaram sobre os porquês.
Muitos agiram em nome da “tradição”, dos costumes ou do “é assim, sempre foi assim e sempre será assim” e não colocaram em
dúvida a atitude praticada. Padre Fábio de Melo dá um belíssimo exemplo que
esclarece perfeitamente o que estou querendo dizer: “Havia uma família que tinha uma receita muito saborosa para o preparo
de um peixe. A tradição já tinha alcançado a terceira geração. O fato
interessante é que o peixe era assado sempre sem a cabeça. Ninguém nunca havia
questionado o fato. Quem o fez foi uma das meninas, que pertencia à terceira
geração. Ao ser perguntada sobre a razão de o peixe ser assado sem a cabeça, a
mãe da menina disse não saber. A resposta foi simples: ‘Sua avó me ensinou a
fazer assim’. A menina, por sua vez, resolveu ir a fundo na investigação. A avó
respondeu da mesma forma: ‘Aprendi com sua bisavó’. Tendo a oportunidade de
perguntar o motivo à bisavó, a menina finalmente resolveu o enigma do peixe sem
cabeça: ‘Não há razão alguma – disse a velha senhora. É que, na assadeira que
eu tinha, o peixe nunca cabia inteiro’”.
Maravilhosa
esta história! Acredito que ela fecha com chave de ouro o raciocínio
empreendido neste post! E padre Fábio conclui: “Nem sempre a manutenção de uma tradição está amparada em motivos
consistentes. O tempo passou, as assadeiras cresceram, mas os peixes continuam
sendo assados sem as cabeças”.
Meus
queridos leitores, quantas e quantas vezes as pessoas são meras reprodutoras de
tradições arcaicas, elaboradas em períodos distintos, marcados por contextos
históricos e costumes próprios daquele período. E não conseguem simplesmente
colocar a dúvida e fazer um questionamento tão necessário para a evolução como
ser humano! A dúvida, se mal feita, pode ser prejudicial como tudo que é
empregado de forma incorreta. Porém, se feita com prudência, equilíbrio e
sensatez, com certeza nos torna cada vez
melhores. Forte abraço: André Massolini
Nenhum comentário:
Postar um comentário